sexta-feira, julho 22, 2011

O afetivo de Ipanema

Roberto fora criado seguindo todos os preceitos religiosos, foi batizado, fez primeira comunhão, de uma família classe média e totalmente temente a Deus. Fez tudo direitinho, estudou, se formou e logo conseguiu um bom emprego, filho único era o orgulho da família.

A mãe tinha uma saúde fraca e Roberto como bom filho sempre fez o melhor para que a vida dela fosse mais confortável. Trabalhava muito, nunca tinha tempo pra si ou para conhecer novas pessoas, sua vida pessoal era uma verdadeira catástrofe, mas no trabalho ele sempre conseguia tempo, se envolvia em projetos sociais e seu envolvimento com as comunidades carentes era notado e noticiado nos meios televisivos. Era em suma o genro que toda mãe desejou para a filha.
Maria Lúcia era o oposto dele, morava no subúrbio e desde muito cedo teve que trabalhar para ajudar a criar quatro irmãos, era uma mulher bonita, mas a falta de tempo para ser mulher fez com que ela se sentisse o patinho feio entre as outras duas irmãs, no bairro os olhos nunca eram voltados para ela sempre para a irmã do meio. Clarisse, sim, ela sim era a mais desejada ou pelo menos era assim que pensava Maria Lúcia.

Virgem aos vinte e cinco anos de idade, quando ela pensava em sua vida pessoal ela era sempre resumida a uma palavra. Caos! Conheceu alguns rapazes, mas nenhum acendeu nela a chama que ela sempre acreditou que deveria existir para que o sexo acontecesse, não era púdica, longe disso, quando saia com as amigas ficava sempre quieta ouvindo os comentários e as confissões maliciosas de umas e outras, foi então que ela se habituou a mentir sobre sua vida sexual, afinal para as amigas era um verdadeiro absurdo uma mulher de vinte e cinco anos ainda ser virgem.
Criara para si a fantasia que ela era uma mulher ativa e que tivera vários parceiros e que conseguia deles sempre o que queria, as amigas acreditavam, ou fingiam acreditar, cordialidade ou veneno de mulheres isso nunca saberemos, afinal Maria Lúcia era tão sensual quanto uma porta.

Depois de ter passado anos vivendo amores platónicos resolveu usar a Internet a seu favor, no começo entrava em salas de bate-papo usando o seu nome verdadeiro, ninguém lhe dirigia a palavra, ela passava horas sentada na frente do monitor na expectativa que alguém lhe convidasse para uma conversa particular, mas a espera era sempre em vão.

Roberto também por essa epóca resolveu usar a Internet como recurso, mas com ele era diferente, entrava nas salas usando o codinome O afetivo de Ipanema e logo todas as janelas piscavam, ele nunca tinha tempo para conhecer pessoas na vida real, não tinha ou não queria, pois sua vidinha era organizada demais, sua casa era seu altar e só de imaginar qualquer mulher por mais bonita ou melhor que fosse circulando por lá, mexendo nas suas coisas lhe subia um frio pela espinha.

Maria Lúcia já cansada não tinha investidas na vida real e agora nem na virtual, resolveu se rebelar e percebeu que o que estava errado era o nome que ela usava, respirou fundo e foi tomar um banho, tomou seu banho calmamente e tal qual um personagem pintou as unhas de vermelho, colocou sua melhor roupa e se sentou na frente do monitor, só que dessa vez decidida.

A fogosa do Flamengo acabou de entrar: 

Não deu outra, todas as janelas piscaram ao mesmo tempo, vários convites para conversas particulares, eram tantas as opções que foi difícil escolher apenas um, optou pelo codinome "O afetivo de Ipamena".

Antes de escrever a primeira mensagem pensou bem no que iria escrever, pois de fogosa ela não tinha nada, pensou tanto que acabou caindo no trivial.

  Olá, tudo bem?

Ele de pronto respondeu:

  Tudo e você?

Ouve então um silêncio que pareceu durar horas, ela de um lado sem saber o que dizer, ele esperando que o codinome fizesse jus a pessoa.
Ela só conseguia se perguntar: Será que eu escolhi a pessoa certa?

A mensagem a seguir a deixou apavorada.

  Como você está vestida? Qual a cor da sua calcinha?

Ela um pouco atordoada, mas se sentindo segura pelo anonimato respondeu no susto:

  Eu estou nua e você?

  Usando pijama.

A resposta dele não foi das melhores, mas ela ficou mais a vontade, a conversa então rendeu mais alguns minutos e veio a pergunta:

Você tem web cam?

Maria Lúcia mesmo querendo dar uma resposta negativa disse que sim, mas antes fez uma exigência, queria vê-lo e não mostraria o rosto.

A tela então se abriu e o que ela viu foi um homem de mais ou menos trinta e dois anos, cabelos castanhos, vestia uma camiseta branca, belos olhos, uma boca bonita, gostou do que viu, ele estava no que parecia ser um escritório, ela prestou atenção em cada detalhe do comôdo, haviam muitos livros e CDs em uma estante logo atrás dele.
Ele em compensação se deparou com uma mulher não nua, mas com um decote provocante.

  Ué, mas você disse que estava nua.

  Eu  estava, mas coloquei uma blusinha que é pra não perder o encanto.

Ele ao contrário dela, só conseguiu ver dela o decote, uma parte do pescoço e uma cama de solteiro. Conversaram quase até o amanhecer, como ele não perguntou o seu nome real, ela achou melhor também não perguntar o dele.

No dia seguinte ambos se atrasaram para o trabalho, mas ela estava feliz e ansiosa para que a noite chegasse logo para mais uma vez falar com O afetivo de Ipanema. Ele por sua vez também estava feliz, coisa rara na vida de Roberto.
O dia custou a passar e quando a noite veio, ela logo se trocou e dessa vez usou uma camisola sexy que comprara no caminho pra casa, passou um batom vermelho, mas ele não apareceu, frustrada depois da longa espera foi para a cama e pela primeira vez tudo nela latejava, pensou em como seria beijar aqueles lábios, lábios de um desconhecido, ficou rolando na cama inquieta até adormecer.

No dia seguinte a rotina foi a mesma, acordou, escovou os dentes, penteou os cabelos e foi para o trabalho, a lembrança dele surgia na sua cabeça e seu corpo entrava quase em transe, um frenesi que ela jamais sentira e que não sabia explicar. O que Maria Lúcia não sabia era que estava sendo consumida pelo desejo.

Semanas se passaram e a transformação dela era visível, mudou o corte de cabelo, usava maquilagem, começou a usar roupas que valorizavam seu corpo, a mudança logo foi notada principalmente quando ela andava na rua. Os homens e mulheres viravam o pescoço para vê-la passar.
Foi então que em uma noite ela conectada a uma sala de bate- papo ele apareceu.
Ela ficou gelada, trémula, mas não o chamou, esperou alguns minutos e então ele o fez.
Ligaram a web cam, ela estava mais confiante e resolveu mostrar o rosto, dessa vez o que ele viu foi uma bela mulher com cabelos longos, lábios volumosos e belos olhos castanhos, ele só sabia elogia-la. Falava da sua boca e em como era excitante vê-a sorrindo.
Se desculpou pela ausência, explicando que teve que fazer uma viagem a trabalho e mais uma vez ficaram até de madrugada conversando.

Ela falou da sua vida, inventou estórias, contou verdades misturadas com algumas mentiras e revelou seu verdadeiro nome, ele assim também o fez. O dia estava quase amanhecendo e foi só então que se despediram.

Os meses a seguir foram de total delírio pra ela, trocaram e-mails quentes e decidiram que era hora de se encontrarem pessoalmente.
Maria Lúcia pesquisou tudo o que ela poderia sobre sexo, teoricamente aprendeu muita coisa, mas na prática só o que sabia era que era capaz de chupar uma banana sem sequer deixar um risquinho, virá isso num filme e resolveu treinar.

Marcaram um encontro em um bar em Ipanema, usou um vestido preto decotado, salto alto emprestado de uma amiga e que deixava suas pernas bem torneadas, quando chegou ele já estava esperando. Se cumprimentaram, ela então se sentou, suas mãos estavam frias, afinal ela nunca se imaginara naquela situação, ele de contrapartida estava bem tranquilo.

  Chegou faz tempo?
  
  Não, cheguei a apenas alguns minutos atrás.

Ele elogiou seu cabelo e seu perfume, pediram um chopp e muitos outros depois fizeram com que Maria Lúcia se sentisse mais livre e mais a vontade. Confessou.

  Sabe que tenho pensado muito em você e em como ter te encontrado mexeu comigo.

Ele sorriu um sorriso safado e confirmou o que ela esperava ouvir.
  
  Eu também pensei muito em você.

Depois de algumas horas, algumas confissões e muito chopp ele então a convidou para ir até o seu apartamento, ela num misto de curiosidade e torpor por causa do chopp de pronto aceitou, no caminho o silêncio que se fez no carro foi assustador, o que fez com que ela colocasse seus pensamentos mais uma vez em ordem, se deu conta que entre eles existia uma química perfeita e uma tensão sexual muito forte, questionou se deveria contar para ele que era virgem e achou melhor não.

Pararam então de frente a um prédio em uma rua tranquila e arborizada, as orquídeas nos troncos das árvores chamou sua atenção.
Entraram na garagem, desceram do carro e foram em direção ao elevador, ela um pouco atrás se sentindo uma estranha. Entraram no elevador, ele apertou o número 4 e em seguida a encostou contra a parede fria e lhe beijou, só pararam quando a porta se abriu 142 esse era o número, ele abriu a porta, entraram, ela atenta a tudo, olhou os quadros, alguns na parede, outros no chão, achou o lugar aconchegante e de bom gosto, mas logo se via que uma mulher nunca havia passado por ali.

Ele a segurou por trás, levantou seus cabelos, beijou sua nuca, seu corpo inteiro se arrepiou, sua mão entrou por debaixo do seu vestido tocando assim o seu sexo por sobre a calcinha, ela não disse uma palavra, apenas permitiu, ele tirou seu vestido com uma certa brutalidade, ela afobada tirou a dele e quando chegaram no quarto já estavam nus.
Se jogaram na cama, ele parecia outra pessoa, um pouco mais bruto, mas ela gostou. Virou-a de costas , o desejo era tanto que ela só queria que aquilo continuasse , sentiu seu membro rijo e seu corpo forte indo de encontro ao dela, sentiu também um pouco de dor, mas gemeu mais e mais alto, nesse momento teve a impressão que acordaria a vizinhança inteira.

Maria Lúcia então se virou e o empurrou se colocando de joelhos, ele segurando seus cabelos com força dando ainda mais movimento, ela o olhou nos olhos o tempo inteiro como se já tivesse feito isso com muitos homens, seus olhos tinham um brilho diferente e ela se sentiu poderosa e no comando pela primeira vez na vida.
O sexo durou longas horas e logo o desconforto deu lugar a um prazer absoluto, ela estava insaciável, queria mais e mais, transaram encostados na janela, na cama, no chuveiro e na mesa do escritório a pedido dela.

Exaustos adormeceram, ela na verdade não conseguira dormir e com os primeiros raios da manhã entrando pela fresta da janela lentamente retirou os braços de Roberto que a envolviam e saiu da cama pé ante pé para que ele não acordasse.
Recolheu as peças de roupa espalhadas pelo apartamento, teve um pouco de dificuldade em encontrar a calcinha, se vestiu e saiu deixando atrás dela a porta, o cheiro de sexo impregnado pela casa e uma mancha de sangue no lençol.
Entrou no elevador apertou o T e logo que se viu na rua seu semblante era outro, sua pele ganhou novas cores, seus seios pareciam ainda mais volumosos, assim como os seus lábios, caminhava mais segura.

Ele de afetivo não tinha muito. Mas ela agora com certeza era A fogosa do Flamengo.