terça-feira, agosto 23, 2011

Este tango é para vos.


Entre Ana e Lidia o que antes fora cumplicidade hoje se tornara um convívio vil e torpe, elas já não se amavam mais ou se amavam mas não sabiam dizê-lo, uma por orgulho a outra por fraqueza e o que as prendia tem outro nome.

Ana não conseguia superar a traição de Lidia. Ah! Lidia! Lidia que outrora a fizera acreditar no amor, mulher essa que lhe causou tanta alegria, quando se conhecerem Ana estava um trapo, com a alma em frangalhos e era exatamente assim que ela estava se sentindo agora, a vida mais uma vez a surpreendera, se perguntava todos os dias o que fazer, mas não encontrava respostas e o que nela antes era leveza se transformara em pesar, se sentia incapaz de qualquer sentimento, só as longas horas de choro a consolavam, suas lagrimas, esse era seu ópio.

Por mais que Lidia disfarçasse ela não podia negar. Os sorrisos, as longas noites ausentes, a falta de vontade de ir para a cama, tudo nela era culpa, Ana conhecia esse sentimento muito bem, ela mesma já havia sentido todos eles quando a conhecera.

O que fazer com o seu cheiro tão enraizado em mim? Ana ensaiava juntar seus cacos, mas tudo doía tanto que ela achou que nunca teria forças suficiente. Outrora amantes, hoje sentenciadas a duas desconhecidas, dois fantasmas vagando por uma casa sem luz, sem fresta de janela.
Sempre a ilusão do para sempre, ela pensava: As mulheres se repetem, as paixões mudam como a lua, mas elas continuam com a mesma fase, com o mesmo risco certo, essa era a parte vil e torpe a que ela se referia, mas Lidia jamais entenderia.

O furação vem e derruba tudo, cabe a quem organizar a casa? Como ela gostaria de ser forte agora, toda a sua força estava em Lidia. Voltara então ao ponto de partida, Lidia que antes a havia feito submergir do fundo do poço agora a afundara de tal maneira que Ana não sabia mais submergir outra vez.

Se sentia ilhada, sabia o que era a traição dos homens, mas de uma mulher, essa era a primeira vez e por isso doía tanto.
Resolveu escrever uma carta enquanto Lidia dormia...

Querida Lidia

Por mais que você negue, mesmo que eu nunca tenha tido a coragem de te perguntar, pois me doeria tanto ouvir mais mentiras da sua boca, que prefiro conviver com a falta de coragem do que com as tuas mentiras honestas, conheço a tua natureza e ela se assemelha tanto a minha, somos fundidas do mesmo pó e não gostaria de macular essa certeza com as tuas mentiras.

Vais me dizer que é só um caso e que ela nada significa quando na verdade tudo em você queima, já te vi assim antes, conheço os teus olhos e acima de tudo a tua boca. Não negue querida ! é tudo o que eu te peço.
Nunca em nenhum momento da nossa existência juntas lhe fui leviana, por amor e acima de tudo por respeito. Maldita! Mil vezes seja ela maldita, sequer consigo odia-la por sabê-la querida a ti.

Já tive momentos calorosos antes, arroubos de juventude, momentos em que por ciúmes quebrava tudo, mas hoje confesso me faltam forças, talvez por saber que o que se quebra não são coisas, o que se quebra são momentos, recordações esses cacos sim dificilmente serão resgatados.
Será que alguma vez enquanto fazíamos amor você pensou nela? Será por isso que tem medo de voltar a nossa cama?
Hoje não sei porque te senti tão distante e a certeza de não mais poder alcançá-la me apavora.

Ana então cansada coloca a caneta sobre o papel, as lagrimas a consomem de tal forma que ela se sente exausta. Volta a cama e se deita do lado de Lidia e entre a miséria e a esperança acredita que tudo seja apenas tolice sua, como tantas outras vezes também o foram.
Tenta acariciar Lidia e sente que não tem lugar pra ela naquela cama se levanta, anda pela casa em desordem, tal como ela.

Volta há caneta acende um cigarro e fita o papel e percebe que dessa vez não é tolice, pois ela sente na carne, no fundo ela tem medo que Lidia não ouse mentir, tem medo que Lidia uma mentirosa compulsiva dessa vez lhe diga a verdade.

Lidia se levanta, Ana ouve seus passos, se enche de coragem, mas quando a vê se sente fraca, oprimida e recua, não consegue olhar nos olhos dela, nem consegue se jogar nos seus braços e beijá-la desesperadamente, tem medo e recua. 
Mais uma vez Ana foge e suas duvidas a consomem, Lidia sempre tão forte vem até ela e lhe pergunta se está tudo bem. Ana responde que sim e mais uma vez se cala.

Ana vai para o quarto se deita na cama se encolhe e chora, só consegue se lembrar das tardes em que passavam na cama distantes do mundo, no lugar onde elas achavam que nada poderia atingi-las, sentindo seu corpo em transe pelas lembranças Ana não consegue pensar em nada além do desejo que ela sente por Lidia, se sentindo refeita pelas lembranças ela se levanta e vai até onde Lidia está e sem pensar em mais nada a toma nos braços beija-lhe a boca com desespero.

Lidia não a impede, era como se durante todo esse tempo ela só esperasse por esse momento, Ana então a conduz para o quarto e lentamente tira a sua roupa, como se fosse a primeira vez, passeia a mão suave pela pele branca de Lidia, sente o seu cheiro, cheira cada pedaço do seu corpo como se fosse um bicho.

Recosta a mão docemente por entre os seios, encosta a cabeça no seus ombro e lhe diz ao ouvido todo o desejo que ficou reprimido nessa longa ausência de Lidia, conta como vai fazê-la gemer de prazer e pedir mais, sente o corpo de Lidia quase convulsionando. 

Diz entre sussurros que quer vê-la sofrendo, que so seguira adiante se ela implorar e Lidia implora, pede que Ana lhe beije a boca, mas Ana se recusa, continua dizendo obscenidades ao seu ouvido, Ana leva os dedos até o seu sexo, sente todo o desejo na ponta dos seus dedos, retira o dedo lentamente e o esfrega no rosto, nos seios de Lidia pra em seguida colocá-los na boca, Lidia pede que ela lhe beije, está rendida , mas Ana continua a torturando e diz que ainda não é a hora, seu corpo esta quente.

Ana calmamente se move na cama, se coloca por cima dela, segura suas mãos, lhe beija o pescoço, lambe sua orelha, passeia com a língua pelos seios de Lidia, desce até chegar no seu umbigo, agora ela segura firme o seu quadril e pede que Lidia se toque, ela obedece, Lidia leva a mão ao seu sexo e o toca calmamente, passa a mão suavemente, sem o desespero de antes, sua respiração é pesada.

Ana a observa e volta a falar no seu ouvido: Sabe o que sempre me enlouqueceu e que sempre me deixa em transe? O barulho do teu gozo, quero te possuir as vísceras, as mucosas e chegar a alma do teu sexo, mas o barulho do teu gozo melando os teus dedos sempre me deixa enlouquecida, feliz de tanto tesão, feliz de tanto desejar, ver e rever e gozar e te ver gozar e de novo te olhar. Quero reviver essas imagens, as quero na minha retina, perpetuadas. Todas elas, te quero dançando nua na sala, gozando no chuveiro. 

Ana a beija, tem nos olhos o desespero, sente o calor do corpo de Lidia aberto, exposto, vai de encontro ao seu sexo, passeia a língua pela sua carne mais vermelha de dentro, sente o seu gosto, sente o liquido que escorre quente pelas pernas de Lidia, ela então se entrega, seu corpo recai sobre o de Lidia e agora elas se fundiram e o ritmo é de um só corpo, elas se movimentam no mesmo compasso, Ana sussurra então no ouvido de Lidia : Mesmo que você se aventure e tenha outras amantes eu nunca seria capaz de deixá-la eu te amo demais, eu amo como nos somos reais juntas e eu amo acima de tudo todas as fantasias que eu crio em relação a você.

segunda-feira, agosto 22, 2011

As Rotinas de Joana



Nada me apetece, andei pensando sobre isso, vejo as coisas em pequenos borrões como se elas fossem anteriores a sua própria existência.


Faz frio, meu corpo está cansado e seco, o vento insiste em entrar por entre a roupa, fazendo sentir um arrepio dolorido na espinha.
Paro para tomar um café , o casal ao lado parece apaixonado, eles se beijam e fazem juras de amor com as mãos entrelaçadas. Logo adiante uma turma discute cheia de trivialidades, ninguém se olha nos olhos. Não sei se conversaria ou se saberia conversar com quem não me olha nos olhos.


Dois jovens se aproximam e se sentam logo atrás de mim, eles falam sobre a aventura da noite passada, parecem pouco experientes pois só falam dos detalhes, se eu me virasse e perguntasse qual era o cheiro ou o gosto da mulher que esteve com eles noite passada eles não saberiam responder.


Joana faz esse mesmo trajeto todos os fins de tarde antes de ir pra casa, escolhe um café se senta e se põe a observar as pessoas, pra em seguida voltar pra casa exausta das suas próprias especulações.


Quando chega tira os sapatos antes de entrar, mesmo no frio, essa é a regra. Procura as chaves na bolsa e entra já sabendo o seu destino, seu corpo instintivamente vai direto pra cama, se livra das roupas rapidamente e se põe nua sobre as cobertas, mais uma de suas regras, sempre dorme nua não importando a estação do ano.


Se aconchega sob das cobertas, pega embaixo do seu travesseiro os fones de ouvido e se tranca mais uma vez no seu devaneio. Ela acredita que Joana Francesa foi feita pra ela e isso a excita profundamente, mesmo exausta Joana sempre se masturba antes de dormir, afinal ela é cheia de regras.


Suas mãos primeiro tocam os seus seios, aperta de leve os bicos os sente intumescidos, a outra mão rapidamente encontra o seu sexo, já conhece o caminho.
Logo ela encontra o ritmo exato e o faz sem pressa, a palma da mão sobre o seu monte de Venus fazendo pressão enquanto os seus dedos ágeis vão se alternando.


Joana suspira fundo, seus olhos levemente vão se fechando, o corpo se alongando, seus pés fazem pressão sobre o colchão, fazendo com que assim seu quadril fique ainda mais arqueado so assim ela pode sentir os seus dedos entrando ainda mais fundo. Ela se consome e se basta. Antes mesmo de ouvir o ultimo refrão: 


Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda o gozo é inevitável. Essa é a regra.

sábado, agosto 20, 2011

Traição se paga com Tango


Ester nunca mais voltará a ouvir tango, tinha medo do ele causava nela, cansada da clausura e da falta de amor foi até o armário separou seu melhor vestido cantarolou no caminho do banho, se despiu entrou no box e sentiu a água quente escorrer pelo seu corpo.

Demorou um pouco mais que o usual, saiu do banheiro rodopiou pelo quarto abraçada ao cabide sentido a maciez do vestido na sua pele, se fitou no espelho em seguida se vestido e saiu.
Rodou por toda a cidade na expectativa de encontrá-lo mas, sua busca foi em vão,  no carro a música estava alta,seu corpo mais uma vez fora consumido pelo desejo,o tango novamente se apoderava dela,como tantas outras vezes já o tinha feito.

Voltou pra casa aflita,levou um susto quando o viu na porta,ele trazia consigo uma garrafa de vinho e a convidou a segui-lo,ela sem nada temer o acompanhou.
Não sabia sequer para onde estava sendo levada,mas como no tango se deixou ser conduzida e ele de fato tinha mãos fortes,mãos que sabiam arrancar dela todo o furor e desespero desses longos anos sem música,sentiu então seu corpo ganhando vida.

Chegaram então ao seu destino,o dia já estava quase amanhecendo e ele era de um vermelho vivo,tal qual o lençol que ele estendera sob uma árvore,sobre uma grama verde,rodopiou debaixo da árvore por sobre o lençol,pés descalços,sentiu as mãos dele nos seus joelhos a puxando para baixo,logo se viu livre do vestido,estava deitada sobre o lençol,sua pele branca contrastava com tudo e a visão que ela teve foi dele entre as suas pernas,olhos azuis famintos,um sorriso de soslaio, tudo era felicidade.

Sentia sua língua quente no seu sexo,tudo nela era uma explosão de sensações e sentimentos,nada nela lembrava a mulher de antes,ela estava refeita,tomada pela dança,a dança e a língua tomaram um só ritmo,achou que fosse enlouquecer.
Fechou os olhos por apenas um segundo,queria permanecer assim pela eternidade, mais a sua ânsia era tamanha que ela não queria perder nenhum detalhe daquela cena, segurou firme os seus cabelos e o trouxe de encontro aos seus lábios,a boca dele tinha o gosto e o cheiro dela,o beijou com desespero,o desespero que só se vê no ultimo beijo.

Ele desceu beijando o seu pescoço,tão próximo e tão rente a sua pele que ele pode ouvir todo o compasso da sua respiração,até que lentamente depositou a boca em seus seios,primeiro um,depois o outro,agora eles eram tudo o que existiam pra ele, lentamente desceu uma das mãos até o seu quadril,arqueado,tal qual o peito arfante,no ritmo da dança,sentiu seus dedos entrarem no seu sexo lentamente, primeiro um,depois outro,sentiu que poderia recebe-lo inteiro dentro dela se fosse possível,tamanho era o seu desejo,desejo que por tanto tempo fora reprimido.

Viu brilhar nos seus olhos toda a devassidão que outrora ela negara,por medo,medo da sua natureza feroz e tão fugaz,ela manteve a musica longe,mas agora pra ela já não existia salvação,estava fadada a luxuria.

Sua carne tremia,as convulsões de gozo vieram em seguida,eles adormecerem um sobre o outro,sentindo o gozo escorrendo por entre as pernas,os seus cheiros misturados no lençol vermelho,mas o tango! Ah o Tango esse não cessou nela nunca mais.