segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Simbiose

Nada mais se movia além do tempo e só se ouvia o som do vento batendo no seu rosto, fazendo o seu cabelo se movimentar como se dançasse um minucioso balé.

Estava sentada na varanda e de onde ela estava podia ver a sombra da lua no pequeno lago, por fora tudo era silêncio, mas dentro dela, porém tudo era uma convulsão de sensações, olhou ao seu redor, se lembrou de que há muito tempo atrás desejou passar a vida assim; sentada na sua pequena varanda, observando o seu pequeno lago e hoje afinal sentia que pra ela já era tarde demais, já estava há muito tempo sozinha longe do que as pessoas costumam chamar de civilização e ela ironicamente chamava de inferno.

Ela tinha razão, hoje já era tarde demais pra voltar atrás, longos anos se passaram desde que ela tomara essa decisão, optou por ela, deixando pra trás tudo o que a consumia, mas hoje sem saber por que seus fantasmas voltarão a lhe assombrar.

Passou a tarde contristada, revirando baús, retirando a poeira que se acumulara sobre ela ao longo dos anos, olhou pro céu a lua se distanciara e agora o que se via era um céu negro, achegou o xale pra junto do seu corpo fazendo um pequeno volume perto do peito, ficou segurando as pontas com força até seus dedos doerem, o vento estava ficando mais forte, logo choveria, mas ela não estava disposta a se levantar da sua varanda, nunca teve medo de chuva, ao contrário, gostava do som das gotas quando batiam no seu rosto, depois bastava um chá bem quente e tudo estava resolvido, a chuva nunca lhe deixara resquícios ruins, muito ao contrário, suas cicatrizes anunciavam a chuva e ela sempre se preparava e ficava lá sentada esperando.

Se deu conta de que nunca perdera uma lágrima sequer, mesmo as secas, sempre as achou necessária, sempre ansiou todas as lágrimas do mundo, mesmo as que não eram dela, por isso gostava de dias chuvosos, tinha a ilusão que aquelas eram as lágrimas do mundo.

Nunca soube ser impar, sempre gostou de números pares. Pensava que existia beleza em ser um, mas sem ser par não se consegue.
Já fora par muitas vezes, mas quando enfim chegava a hora de ser impar tudo ruía.

Ela olha a sua volta, a casa está vazia, ela mesma está vazia e nesse mesmo minuto as primeiras gotas de chuva caíram suaves no seu rosto, fechou os olhos por alguns segundos, segundos que duraram tempo demais, quando retrogradou a abri-los a chuva já tomara conta de tudo, olhou a grama verde e ela lhe convidava a dançar, se livrou dos sapatos e do xale e foi em direção a ela, tocou o chão com delicadeza sentiu nos seus pés a grama molhada, sentiu a textura fluida da grama misturada a chuva, sendo enfim impar fechou os olhos e dançou, mas agora não mais sozinha, tinha como companhia o céu negro e já sem estrelas.

Nada mais a prendia, se sentia suspensa, aos poucos sentiu que todas as convulsões haviam cessado e mais uma vez se tornara dona de si.

Experimentava naquele minuto uma ânsia avassaladora em se atirar ao chão e assim o fez, seu corpo estava exausto da dança, tudo o que ela sentia era a viscidez da grama misturada as suas lágrimas, logo seu corpo estava todo molhado e dela parecia jorrar toda a água do mundo, a única coisa quente eram as lágrimas que corriam sem pudores no seu rosto indo de encontro a chuva.
Suspirou fundo, secou os olhos, mas se deu conta de que não seria tão fácil, pois teve a confirmação que dali vertiam as lágrimas do mundo e só nesse pequeno instante se sentiu feliz, aquelas eram sim! As lágrimas mais doces que ela já havia chorado. Então teve certeza naquele momento que tomara a decisão certa.



sábado, novembro 12, 2011

Helena



Esse pequeno instante de eletricidade, essa pequena morte era pra Helena sempre um recomeço, mesmo exausta ela queria mais e mais, queria que essa sensação, essas faíscas não cessassem nunca, por vezes depois do gozo, Helena se deitava de lado,com as pernas juntas numa espécie de suplica, quadril arqueado projetando as nadegas pra trás, fazendo com que assim quem estivesse atrás dela tivesse uma visão ampla do seu sexo, fantasiava línguas, dedos, bocas, estava ali exposta ao alcance de quem passasse, fosse homem, fosse mulher, qualquer um que fosse, ela estava ali pronta, aberta como flor orvalhada.

Ela, porém sempre se perguntava: O que fazer? Eu sou assim, preciso pensar coisas sujas, imaginar bocas desconhecidas para amplificar esse pequeno instante, nascera assim, feito bicho, mas era bicho diferente, estava sempre no cio, por vezes fantasia andar sobre patas, sem roupas, ainda mais aberta, ela era de quem sentia o seu cheiro, de quem se sentia atraído por ele, não sabia ser diferente, aprendera assim.

Desde o primeiro homem, dele só desejou o prazer, nada de beijos, nada de afagos, nada de nada, apenas línguas e dedos e que venho o próximo, esse já não me serve. Puta!Puta nunca foi, nunca cobrou por suas prendas.

Helena era o que então? Por suas pernas passaram reis, rainhas, pobres soldados, mulheres maledicentes, pra ela não tinha importância, fosse quem fosse ela estava sempre pronta.

Seu monte de Vênus ostentava uma penugem negra que reluzia ao sol tal como seda brilhante, mas Helena gostava mesmo era da penumbra, onde rostos, homens e mulheres ganham outras formas, onde perdem os pudores e as mascaras caem, ela era assim e quem poderia questionar? Os que iam ter com ela? Não, esses eram feitos do mesmo barro, libertinos em busca do prazer.

Certa vez lhe perguntaram se ela não se cansava de ser sempre assim receptível e ela respondeu sem pestanejar, me cansa ser como os outros, só sou uma mulher na nomenclatura, dentro de mim sou bicho e quem há de me repudiar? Tu que vens até mim com os olhos famintos, percebo a baba que escorre dos teus lábios, só não tens coragem de te servir.
Dito isso Helena se fechou, não es digno sequer de me olhar, pois me vê como uma vergonha, vergonha tenho eu te ti que nega a tua fome, dizendo isso o expulsou da sua casa.

Naquela noite ele não dormiu, se questionou e acabou por invejá-la, ela porém se fez mais bela ofereceu além do seu sexo seus seios e sua boca a oferta fora bem recebida por todos que entravam.

Na manhã seguinte aos primeiros raios do novo dia, ele estava lá na porta de Helena, olhos de cachorro faminto, ela que não era de recusas o deixou entrar, estava nua trazia no corpo odores misturados aos seus ele não resistiu e com fúria se jogou sobre ela, lhe mordendo a nuca, lhe cheirando as nadegas e como bicho se esbaldou sobre e dentro dela. Helena com os olhos ainda mais brilhantes e vidrados só teve tempo de balbuciar... Entende agora? A fome sempre é maior que a decência.

Henri de Toulouse-Lautrec









domingo, novembro 06, 2011

Lágrimas Rubras.

Os cabelos presos logo foram soltos fazendo com que assim eu os sentisse sobre a minha nuca e os meus ombros, minhas costas apoiadas na parede senti seu membro indolente numa fúria desavergonhada.

Empurrou-me rumo à cama, senti na minha pele a maciez do lençol de seda, isso fez com que meu corpo se arrepiasse e assim nesse estado latente dei aos seus olhos e as suas mãos toda a liberdade, me sentia naquele momento obsequiosa demais pra discutir.

Ele se jogou sobre mim com ímpeto total, a liberdade que eu dei aos seus olhos e suas mãos já não bastavam ao seu desejo e suas caricias se intensificaram.

Beijou os meus lábios com total despudor, lambendo o meu rosto, mordendo minha orelha entoando cantigas rente a minha pele num tom de confissão.

Eu as ouvi e logo minha pele ganhou outra cor, ela passou de branca para um tom rubro.

Meu desejo agora estava todo concentrando no meu sexo, senti meu liquido quente molhando os lençóis já num começo do que seria minha submissão total.

Rendida lhe implorei que rasga-se a minha roupa e assim ele o fez, mas não antes de desferir alguns golpes sobre o meu rosto.

Virou-me de costas num movimento brusco, mordendo minha nuca, minhas costas, senti seus dentes entrando fundo nas minhas nádegas.

Logo eu estava vermelha, meu corpo marcado pelo furor que saia de mim e se apoderava dele, não suportando a idéia de me ver sofrer, afagou os meus cabelos com ternura e eu na minha desfaçatez permite que ele o fizesse.

Em seguida segurou firme a minha cintura, me rodando e me fazendo voltar a posição inicial de frente pra ele.

Pacientemente acariciou meu corpo, olhava cada pedaço meu como se fosse à primeira vez, seus olhos cintilavam.

Lagrimas então surgiram dos meus olhos numa tentativa vã de aplacar o fogo que consumia toda a minha carne agora estirada sobre a cama.

Seu corpo fazendo pressão sobre mim enquanto minhas lágrimas banhavam meu rosto agora mais quentes do que o meu próprio corpo poderia suportar e numa explosão de volúpia me fiz ainda mais rendida, mas ainda não me sentia satisfeita, eu queria mais, precisava de mais, pedi que me batesse com mais força e ele então se tornou fugidio por alguns segundos só pra em seguida puxar o meu cabelo levando pra junto dele o que ainda restava de mim, senti sua respiração vindo de encontro aos meus olhos, seus lábios se abriram e ele secou as minhas lágrimas com a língua.

Permaceu assim até que eu adormece-se, depois? Depois eu nada senti.

quinta-feira, outubro 20, 2011

Memória de Pele.


Eu esperei pacientemente até o momento em que eu me despiria, haviam muitas luzes no quarto.

Existia no seu olhar uma avidez assustadora, não dissemos uma só palavra, nos abraçamos e permanecemos assim, o abraço durou o tempo de uma opera, senti o desejo ardente do seu corpo e instantaneamente meu corpo reconheceu cada poro do corpo dele. 

Suas mãos passearam pelo meu cabelo, silencio, nada de palavras, a linguagem agora é a do corpo, ele dita as regras.
Penso que em outros tempos já estaríamos nus na cama, mas hoje não! Hoje nos reconheceremos, ele agora trás cicatrizes de guerra.

Olho a nossa volta, a cama, o lençol branco, um branco anil, o quarto iluminado faz daquela cama um altar, minha carne é tremula e nas minhas entranhas corre sangue, sangue rubro.
Nosso amor é vermelho, tal qual o sangue que jorra de mim, penso nos lençóis brancos, penso que se eu me deitar nele vou maculá-lo com o meu sangue hesito.

Continuamos ali abraçados, para no momento seguinte me ver despida por ele que lentamente tira o meu vestido, me deixando então frágil, o vejo detrás de mim pelo espelho, me encolho, ele me enleva, toca meu ombro afetuosamente, com calma faz cair a alça do meu sutiã e toca os meus seios que já estão quase a mostra eu me fito no espelho, sinto sua mão forte apertando a minha bunda, enquanto morde a minha nuca num movimento sincopado, sua outra mão busca pelas minhas coxas, ele as aperta querendo tirar de mim um som doce e melancólico e tem êxito.

Já com as mãos livres, tira a minha calcinha percebe o sangue que escorre pelas minhas pernas, eu tento me livrar dele, corro compulsivamente pelo quarto, corro em círculos, até que ele sem fôlego consegue me alcançar, me jogando então sobre a cama, sobre os lençóis brancos antes imaculados, mas que agora carregam a macula do meu sangue.

Ele se diverte com a cor rubra e diz que meu sangue é da cor dos meus lábios e assim me beija com voluptuosidade, sinto sua língua tocando a minha, nada mais se move, os lábios só se encostam, apenas a língua dele passeia dentro da minha boca, ofereço então a minha, ele aceita e eu sinto uma pequena explosão, um frêmito.

Meu corpo num rumor surdo e áspero... Minhas mãos embora livres estão presas, não consigo me movimentar estou paralisada na cama tudo o que eu sinto é sua língua encostando na minha num desvario de quem tem pressa em engolir o mundo. E ele o faz como se me comesse o sexo.

Assustada abro os olhos pra ter certeza que é mesmo ele! Sim é ele. Volto a fechá-los e só vou reabri-los depois do beijo.

Ele me oferece seus dedos e sinto cada centímetro deles entrando dentro de mim, tão fundo que chego a me contrair de dor e percebo que só ele consegue chegar tão fundo em mim, sempre nos pertencemos e não seria diferente dessa vez, seus dedos estão sujos de sangue e as primeiras gotas de suor começam a molhar minha testa, ele as seca fazendo com que assim meu rosto também fique sujo com o meu sangue, assopra meu rosto, seu hálito fresco recai sobre mim como uma pequena brisa.

Ele se desloca na cama como um bicho e só para quando chega no meio das minhas pernas, fazendo com que elas se abram num movimento quase brusco, me olha minuciosamente e eu cheiro os meus braços, meus ombros, resgatando assim o cheiro dele em mim.
Sem pudor algum ele lambe meu sexo, diz que meu sangue é doce assim como a minha boca. Ele tem uma necessidade intensa, quer verter tudo de dentro de mim, demonstro uma certa resistência, mas ele me impede levantando então os olhos buscando os meus e eu me vejo refletida nos dele. Percebo então que ele é o meu espelho.

quarta-feira, outubro 19, 2011

Paixão Aguda e Urgente.

Traz-me tua paixão aguda e urgente, trás o teu desejo que não se encerra, vem se mexendo para que eu possa me abrir em movimentos sincopados.
Quero-te ainda, hoje, alucinadamente mesmo de longe, vem me tirar do chão, do sério.
Vem me fazer ter certeza que eu sou a tua bússola e também a tua desorientação, quero que abra com tua mão o que sempre foi teu. 
Me dispo, estou nua sinto a minha barriga tremula a espera de sentir o teu corpo colado ao meu, esperando o que já é uma adição tomar conta do meu sexo e desejo.
Te espero. Vem logo. Com Calor... Pressa... Vem suprir os desejos da minha boca que espera por um beijo teu.
Faz alguma coisa, te quero já, é urgente sim!
Vem me acende como se acende a um fogo. Uma lâmpada, tocha, uma mulher.
Vem me excita, eu quero que isso se faça mais e mais e de novo, fortemente como tem sido, hoje, agora!
Repito todos os gestos como costumava fazer antes da sua partida, me sento na cama de frente para você, nua...Com as pernas abertas, me tocando e te olhando nos olhos.
Revivo todas as variações desse inesgotável e delicioso tema que nos uniu nessa vertigem adorável, sinto o calor delicioso do teu gozo quente no meu rosto, seio, boca, corpo, sexo... Tudo.
Tento me lembrar da tua voz, mas o que me vem é o silêncio,o desejo e eles me bastam. E nesse momento ampliam essa onda de delicias que me pegou de jeito.
Sinto uma explosão pulsante ao me recordar dessa visão, essa visão do futuro mais próximo. 

terça-feira, agosto 23, 2011

Este tango é para vos.


Entre Ana e Lidia o que antes fora cumplicidade hoje se tornara um convívio vil e torpe, elas já não se amavam mais ou se amavam mas não sabiam dizê-lo, uma por orgulho a outra por fraqueza e o que as prendia tem outro nome.

Ana não conseguia superar a traição de Lidia. Ah! Lidia! Lidia que outrora a fizera acreditar no amor, mulher essa que lhe causou tanta alegria, quando se conhecerem Ana estava um trapo, com a alma em frangalhos e era exatamente assim que ela estava se sentindo agora, a vida mais uma vez a surpreendera, se perguntava todos os dias o que fazer, mas não encontrava respostas e o que nela antes era leveza se transformara em pesar, se sentia incapaz de qualquer sentimento, só as longas horas de choro a consolavam, suas lagrimas, esse era seu ópio.

Por mais que Lidia disfarçasse ela não podia negar. Os sorrisos, as longas noites ausentes, a falta de vontade de ir para a cama, tudo nela era culpa, Ana conhecia esse sentimento muito bem, ela mesma já havia sentido todos eles quando a conhecera.

O que fazer com o seu cheiro tão enraizado em mim? Ana ensaiava juntar seus cacos, mas tudo doía tanto que ela achou que nunca teria forças suficiente. Outrora amantes, hoje sentenciadas a duas desconhecidas, dois fantasmas vagando por uma casa sem luz, sem fresta de janela.
Sempre a ilusão do para sempre, ela pensava: As mulheres se repetem, as paixões mudam como a lua, mas elas continuam com a mesma fase, com o mesmo risco certo, essa era a parte vil e torpe a que ela se referia, mas Lidia jamais entenderia.

O furação vem e derruba tudo, cabe a quem organizar a casa? Como ela gostaria de ser forte agora, toda a sua força estava em Lidia. Voltara então ao ponto de partida, Lidia que antes a havia feito submergir do fundo do poço agora a afundara de tal maneira que Ana não sabia mais submergir outra vez.

Se sentia ilhada, sabia o que era a traição dos homens, mas de uma mulher, essa era a primeira vez e por isso doía tanto.
Resolveu escrever uma carta enquanto Lidia dormia...

Querida Lidia

Por mais que você negue, mesmo que eu nunca tenha tido a coragem de te perguntar, pois me doeria tanto ouvir mais mentiras da sua boca, que prefiro conviver com a falta de coragem do que com as tuas mentiras honestas, conheço a tua natureza e ela se assemelha tanto a minha, somos fundidas do mesmo pó e não gostaria de macular essa certeza com as tuas mentiras.

Vais me dizer que é só um caso e que ela nada significa quando na verdade tudo em você queima, já te vi assim antes, conheço os teus olhos e acima de tudo a tua boca. Não negue querida ! é tudo o que eu te peço.
Nunca em nenhum momento da nossa existência juntas lhe fui leviana, por amor e acima de tudo por respeito. Maldita! Mil vezes seja ela maldita, sequer consigo odia-la por sabê-la querida a ti.

Já tive momentos calorosos antes, arroubos de juventude, momentos em que por ciúmes quebrava tudo, mas hoje confesso me faltam forças, talvez por saber que o que se quebra não são coisas, o que se quebra são momentos, recordações esses cacos sim dificilmente serão resgatados.
Será que alguma vez enquanto fazíamos amor você pensou nela? Será por isso que tem medo de voltar a nossa cama?
Hoje não sei porque te senti tão distante e a certeza de não mais poder alcançá-la me apavora.

Ana então cansada coloca a caneta sobre o papel, as lagrimas a consomem de tal forma que ela se sente exausta. Volta a cama e se deita do lado de Lidia e entre a miséria e a esperança acredita que tudo seja apenas tolice sua, como tantas outras vezes também o foram.
Tenta acariciar Lidia e sente que não tem lugar pra ela naquela cama se levanta, anda pela casa em desordem, tal como ela.

Volta há caneta acende um cigarro e fita o papel e percebe que dessa vez não é tolice, pois ela sente na carne, no fundo ela tem medo que Lidia não ouse mentir, tem medo que Lidia uma mentirosa compulsiva dessa vez lhe diga a verdade.

Lidia se levanta, Ana ouve seus passos, se enche de coragem, mas quando a vê se sente fraca, oprimida e recua, não consegue olhar nos olhos dela, nem consegue se jogar nos seus braços e beijá-la desesperadamente, tem medo e recua. 
Mais uma vez Ana foge e suas duvidas a consomem, Lidia sempre tão forte vem até ela e lhe pergunta se está tudo bem. Ana responde que sim e mais uma vez se cala.

Ana vai para o quarto se deita na cama se encolhe e chora, só consegue se lembrar das tardes em que passavam na cama distantes do mundo, no lugar onde elas achavam que nada poderia atingi-las, sentindo seu corpo em transe pelas lembranças Ana não consegue pensar em nada além do desejo que ela sente por Lidia, se sentindo refeita pelas lembranças ela se levanta e vai até onde Lidia está e sem pensar em mais nada a toma nos braços beija-lhe a boca com desespero.

Lidia não a impede, era como se durante todo esse tempo ela só esperasse por esse momento, Ana então a conduz para o quarto e lentamente tira a sua roupa, como se fosse a primeira vez, passeia a mão suave pela pele branca de Lidia, sente o seu cheiro, cheira cada pedaço do seu corpo como se fosse um bicho.

Recosta a mão docemente por entre os seios, encosta a cabeça no seus ombro e lhe diz ao ouvido todo o desejo que ficou reprimido nessa longa ausência de Lidia, conta como vai fazê-la gemer de prazer e pedir mais, sente o corpo de Lidia quase convulsionando. 

Diz entre sussurros que quer vê-la sofrendo, que so seguira adiante se ela implorar e Lidia implora, pede que Ana lhe beije a boca, mas Ana se recusa, continua dizendo obscenidades ao seu ouvido, Ana leva os dedos até o seu sexo, sente todo o desejo na ponta dos seus dedos, retira o dedo lentamente e o esfrega no rosto, nos seios de Lidia pra em seguida colocá-los na boca, Lidia pede que ela lhe beije, está rendida , mas Ana continua a torturando e diz que ainda não é a hora, seu corpo esta quente.

Ana calmamente se move na cama, se coloca por cima dela, segura suas mãos, lhe beija o pescoço, lambe sua orelha, passeia com a língua pelos seios de Lidia, desce até chegar no seu umbigo, agora ela segura firme o seu quadril e pede que Lidia se toque, ela obedece, Lidia leva a mão ao seu sexo e o toca calmamente, passa a mão suavemente, sem o desespero de antes, sua respiração é pesada.

Ana a observa e volta a falar no seu ouvido: Sabe o que sempre me enlouqueceu e que sempre me deixa em transe? O barulho do teu gozo, quero te possuir as vísceras, as mucosas e chegar a alma do teu sexo, mas o barulho do teu gozo melando os teus dedos sempre me deixa enlouquecida, feliz de tanto tesão, feliz de tanto desejar, ver e rever e gozar e te ver gozar e de novo te olhar. Quero reviver essas imagens, as quero na minha retina, perpetuadas. Todas elas, te quero dançando nua na sala, gozando no chuveiro. 

Ana a beija, tem nos olhos o desespero, sente o calor do corpo de Lidia aberto, exposto, vai de encontro ao seu sexo, passeia a língua pela sua carne mais vermelha de dentro, sente o seu gosto, sente o liquido que escorre quente pelas pernas de Lidia, ela então se entrega, seu corpo recai sobre o de Lidia e agora elas se fundiram e o ritmo é de um só corpo, elas se movimentam no mesmo compasso, Ana sussurra então no ouvido de Lidia : Mesmo que você se aventure e tenha outras amantes eu nunca seria capaz de deixá-la eu te amo demais, eu amo como nos somos reais juntas e eu amo acima de tudo todas as fantasias que eu crio em relação a você.

segunda-feira, agosto 22, 2011

As Rotinas de Joana



Nada me apetece, andei pensando sobre isso, vejo as coisas em pequenos borrões como se elas fossem anteriores a sua própria existência.


Faz frio, meu corpo está cansado e seco, o vento insiste em entrar por entre a roupa, fazendo sentir um arrepio dolorido na espinha.
Paro para tomar um café , o casal ao lado parece apaixonado, eles se beijam e fazem juras de amor com as mãos entrelaçadas. Logo adiante uma turma discute cheia de trivialidades, ninguém se olha nos olhos. Não sei se conversaria ou se saberia conversar com quem não me olha nos olhos.


Dois jovens se aproximam e se sentam logo atrás de mim, eles falam sobre a aventura da noite passada, parecem pouco experientes pois só falam dos detalhes, se eu me virasse e perguntasse qual era o cheiro ou o gosto da mulher que esteve com eles noite passada eles não saberiam responder.


Joana faz esse mesmo trajeto todos os fins de tarde antes de ir pra casa, escolhe um café se senta e se põe a observar as pessoas, pra em seguida voltar pra casa exausta das suas próprias especulações.


Quando chega tira os sapatos antes de entrar, mesmo no frio, essa é a regra. Procura as chaves na bolsa e entra já sabendo o seu destino, seu corpo instintivamente vai direto pra cama, se livra das roupas rapidamente e se põe nua sobre as cobertas, mais uma de suas regras, sempre dorme nua não importando a estação do ano.


Se aconchega sob das cobertas, pega embaixo do seu travesseiro os fones de ouvido e se tranca mais uma vez no seu devaneio. Ela acredita que Joana Francesa foi feita pra ela e isso a excita profundamente, mesmo exausta Joana sempre se masturba antes de dormir, afinal ela é cheia de regras.


Suas mãos primeiro tocam os seus seios, aperta de leve os bicos os sente intumescidos, a outra mão rapidamente encontra o seu sexo, já conhece o caminho.
Logo ela encontra o ritmo exato e o faz sem pressa, a palma da mão sobre o seu monte de Venus fazendo pressão enquanto os seus dedos ágeis vão se alternando.


Joana suspira fundo, seus olhos levemente vão se fechando, o corpo se alongando, seus pés fazem pressão sobre o colchão, fazendo com que assim seu quadril fique ainda mais arqueado so assim ela pode sentir os seus dedos entrando ainda mais fundo. Ela se consome e se basta. Antes mesmo de ouvir o ultimo refrão: 


Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda o gozo é inevitável. Essa é a regra.