quarta-feira, outubro 27, 2010

Sua


Nós temos medo de nós dois, carinho, meu rapaz! Meu homem que eu levo a sério com discrição e despudor, minha criatura mantida em amor por mim sob os olhos atentos da minha alma mais limpinha triturada e provocada pelo meu lado mais sujo. Você se deixa queimar, ou esse fogo só arde sobre mim?

Não quero investigar estrelas, eu quero a proximidade da tua pele na minha.

Eu quero o êxtase. Eu quero queimar sempre, mas eu sinto que a palavra precisa de voz. Só escrevo por isso, porque a palavra sem voz é uma palavra vã. Eu preciso da voz, antes a entonação que a métrica. A métrica da linguagem é o corpo e como ele se revela. Não existe simetria, só existe cheiro e tato. Eu tateio estrelas, eu busco o impossível, eu busco a beleza entre os destroços, eu busco uma centelha, eu busco o ar, eu busco esse rastro de beleza onde o olho humano não vê. A beleza de cada ser, a beleza nos olhos. Eu busco o que está perdido nos baús empoeirados de angústia e dor, eu busco beleza na angústia, eu busco um sopro de poesia onde tudo é dor. Onde está a sua beleza? Por que tantos questionamentos? A filosofia se perdeu com a modernidade e nem temos grandes causas, mas isso só se questiona quando se vive, e então eu me pergunto: Você está vivo?

 Quem cuidará das tuas chagas, quem colocará os dedos nas tuas feridas sem que elas causem repulsa a outrem? 

Não se iluda meu jovem, você nunca esteve em uma guerra de verdade, brinca com as tuas guerras particulares, você nunca teve vontade de morrer por alguém e a tua pele agora me parece fria e já sem vida, mas eu ainda vejo beleza nos teus olhos e as tuas mãos ainda pulsam.

Não jures amor em vão e nem tão pouco faça pouco do amor que te oferecem, não queira perpetuar a tua boca em mim, guarde a tua saliva, ainda vais precisar dela. Quem é você?  E como é que ousas ficar longe de mim? Como é que se resguarda você um homem  simbólico do meu alfa beta puta que pariu,  que eu vejo longe demais e que vai continuar assim; Ouviu! Entenda que eu não vou deixar você mandar aqui, sou jovem demais pra sua visão arcaica e moralista da paixão mundana do amor, viciada do sexo que você respeita e deturpa demais e que não sabe levar ao leo e nem dar tempo ao tempo. Sou velha demais porque construí uma pele renovada e que você quer lambuzar pela primeira vez.

  E mais uma vez eu pergunto: 
Quem você vai amar dessa vez! 
Mais uma bastarda? 
 Não, uma parte de mim.
Mais uma puta?   
 Não, uma parte dos meus personagens.

 E eu tenho que te amar como eu sou  e isso me irrita e me enoja em ti porque eu te amo erradamente,  corriqueiramente todos os dias sem detestá-lo.

Porque ousa você me instigar e me provocar com as tuas tentativas patéticas que não quero negar a ninguém, muito menos a ti, e que nego a ti por pensares quem sou.
Depois vem e diz que não conquistou nada,  mesquinho, mentiroso e inóspito você que joga e manipula dados e peões, vacas e rainhas, todas as mulheres te repugnam e querem dar pra você e finges que não vê. Finges que é esfinge. Finge superioridade quando só é superior, quem ri de ti ou goza do melhor que tens a dar a outrem e o que não dá?

 O que fazer contigo em mim? Você, um labirinto incauto em história de uma vida em televisão e realidades nuas sutilmente cozinhadas em fantasias que estimulará em mim todas as noites com o seu gosto de cinema na língua. ÉS tudo e ÉS nada rapaz, não viveu nada e tem sede de tudo, tem pressa de um tempo medíocre que não sabe o que foi nem o que eu vejo dele hoje, mira-me errada como ÉS e não me vê como sou.  Não me vê mulher , mas fêmea, tentar prurir em mim uma função na tua vida que não tenho e nem terei, anuncia ao seu Deus e ao mundo que ÉS como eu e que fará bem a mim dando de ti a mim o mundo. 
Tenho medo do que vou sentir depois que dar pra você e olhar a tua cara satisfeita, refeita de feliz, como seria você feliz? Seu carinho fingido, seu gozo mentido, seu cuspe envernizado no seu corpo que cheira a suor e  sabão caro e duro, rudimentar demais.

Você que não estava vivo quando comprei o meu primeiro perfume que não era meu, quando eu por um tempo deixei  de usá-lo por causa de homens como você.
Tenho medo de olhar pra ti depois de dar- te a mim e saber que seus clichês são tão previsíveis. Foi bom pra nós dois e se foi  você vai me fazer sobrar o quê pra querer? Se posso querer coisa melhor, se tenho coisa melhor ao estalar uma ponta do meu dedinho aos ecos do castelo e da sarjeta. 

Você nunca foi à guerra, fugiu da escola e do exército da nossa pátria amada, mas foges da mulher amada, vai até ela quando quer, trabalha quando quer. Não tem compromisso e nem assina cheques, você nunca matou um homem nunca fez uma mulher se matar, nunca atirou uma pedra ao precipício e invade o meu território com cem mil soldados, todos buscando a minha aprovação como se eu fosse mulher que desse aprovação a algum homem que precisasse de mim todas as noites.Você que teve a minha aprovação tantas vezes, logo terá a ousadia de dedilhar-me e ainda assim ouvir o meu simples sim? 

ÉS tolo o sim, eu guardo para os outros, eu rio do sim, ele é que me faz gozar. Eu levo a sério o não que nunca soubestes me dizer, preciso de mais, você não vai me ter, você não vai me prender e se me tiver provavelmente não vai me querer por tempo além do seu próximo projeto de desenho, você que não sabe os seus desejos que delineia desejos com projetos de mulheres e projeções do seu inconsciente bárbaro, canalha, leal, amigo, amante que não sabe amar e se fez ser amado uma única vez na vida por mim. 
E se eu não quero o mundo? E se eu só quero de ti o seu mundo e a mim, e  pensa na cama, vê se suja bem a sua cama perfumada se é pra ser feliz com o teu deboche e lágrima de amor.
Da sua...

Taci Galdino .
Sebastião Maciel.

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