quarta-feira, setembro 22, 2010

Carta a Uma Desconhecida


A conheci num bar era inverno, os cabelos em total desalinho, os olhos fixos em um canto qualquer, fumava um cigarro me parecia gostar muito da música, pois cantarolava baixinho, passei horas observando aquela mulher com total estranheza, ela era o oposto de todas ali, me aproximei e ela me fitou nos olhos como se já me esperasse, me convidou pra sentar e permaneceu em silêncio, aquilo me desconsertou, me senti um menino sem sequer saber onde colocar as mãos, pra onde olhar que não para os seus lábios, ao findar a música ela novamente me fitou com os olhos ainda mais brilhantes e me perguntou: Gosta de Chico? Em seguida cantarolou Luiza quase balbuciando, e eu ali parado sem conseguir dizer uma só palavra, acendeu mais um cigarro em espera a minha resposta e antes que eu pudesse dizer algo emendou: Sei que a música é do Tom, mas Luiza sempre vai ser do Chico. 

Ficamos alguns minutos falando sobre música, sobre Luiza, Beatriz e todas as mulheres já cantadas. E eu só conseguia pensar que eu sequer sabia seu nome e achei melhor não sabê-lo.

O ambiente era escuro a fumaça do seu cigarro subia e fazia uma aureola em volta da luz, ela dava longas tragadas em seguida passava a língua por entre os lábios, perguntei o que ela estava bebendo e ela disse uísque me acompanha?

Ficamos ali não sei por quanto tempo tomando uísque e rindo, tudo nela me deixava sem graça, à maneira como passava a mão nos cabelos, como virava os olhos e travava o maxilar quando eu não concordava com alguma opinião dela.

Saímos de lá e fomos para o meu apartamento, ela andou pela sala, parou de frente a estante, olhava com prazer para cada livro, admirou alguns, abominou outros, dentro de mim tudo gritava. Me pus a fita-la percebendo as nuances do seu rosto,  a maneira como ela deslizava os dedos por entre os livros, o contorno da sua nuca exposta, o cabelo curto, como ela parecia frágil, eu estava em êxtase, mas então o seu telefone tocou o som me fez voltar a realidade, ela disse que precisava ir embora, saiu apressada sequer tive tempo de me despedir.

Voltei ao mesmo bar diversas vezes na expectativa de voltar a vê-la, nunca mais a vi. Dela só me restaram às canções do Chico.

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