terça-feira, setembro 28, 2010

Suas Mãos


O conheci voltando da guerrilha, nas mãos e no rosto as marcas de sua luta e nos olhos o êxtase.
Olhou-me e achou que eu estivesse brava, mas não.Era medo. Medo profundo por saber que depois daquela tarde não teria mais volta.
Eu esperei por ele todo esse tempo, eu esperei desde o ultimo beijo. Sinto que posso lhe dar algum calor, ele acha que eu decifro coisas muito intimas.

Suas mãos estão sujas de tinta e o meu cabelo preso esconde o desejo. O desejo de beijar-lhe as mãos.
Eu lhe ofereço vinho enquanto ele me desenha, ele tem acesso a toda a minha intimidade. Aonde eu vou levá-lo é segredo, sinto que os nossos desejos são irresponsáveis. Secretos- Únicos - Nossos.

Agora já é tarde e eu me deixo queimar, ele é fogo e eu sou água. Ele é insaciável e gosta de tudo ao contrario e eu misteriosa, cheia de segredos. Só me deixo decifrar através da sua tinta.

Não sei o que me inquieta se ele ou o tango! Ele me lê com as mãos e em retribuição eu lhe ofereço todos os meus tangos.

Ele me confessa seus sonhos, diz que sonha com a minha boca, Confessa ter vontade da minha pele e de estar no meio das minhas pernas. Diz que tem vontade de sentir o que eu sinto, quer entrar em mim com a língua, ele me desfragmenta pra poder conhecer cada pedaço do meu corpo.

Eu o deixo entrar e ele beija, lambe, sente o meu cheiro, beija os meus pés e ele me desenha assim, nua, entregue.
O medo que eu senti quando vi suas mãos sujas de tinta não existe mais, agora eu as quero no meu corpo, quero todas as suas cores se misturando num desenho perfeito, desenho de gozo.

Ele me permitiu ultrapassar o portal e agora já é tarde, eu já conheço as suas nuances, sei como ele desvia o olhar, ele lambe não só o meu corpo, mas a minha alma e então eu peço pra lamber as mãos dele, mãos sujas de tinta, todos os cheiros misturados na sala, tinta e cigarro, sexo e desejo. Boca e língua.

Eu o vejo seduzido, indefeso, tal como um menino descobrindo o sexo, sonhando o mais intimo dos sonhos e desejos. E eu o faço homem! Meu homem. Eu preciso dele e desse cheiro no meu corpo, cheiro feito de duas pessoas.
Tinta, lábios e desejo.
A tinta escorre pelas pernas, nos seios e ele tem fome. Fome de bicho, eu agora sou inteira nele, como um animal ele bebe tudo, as mãos, os dedos. Mostro-me, me toco e ele olha, olha com os olhos de bicho, lambe o meu pescoço e eu o deixo entrar no meu corpo, na minha musica.
Eu reconheço o gosto dele na minha música, bebo da sua saliva. Dançamos nus pela sala, entrelaçados, ele está seguro, está protegido nos meus braços. E nós fazemos amor até nos sintonizarmos de vez, até entender todos os nossos toques, gemidos e pausas. Até virarmos um só suspiro, até uma pincelada virar gozo.

Tudo acontece sem pressa e ele diz que o nosso cheiro misturado com tinta dá arte, depois de cessar a música sinto que ele precisa voltar pra guerrilha, mas mesmo longe eu consigo farejar o seu cheiro.

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